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Showing posts from October, 2005

Deus perdoa, eu não.

Vai rápido na sua lambreta, sem medo de nada, não há perigo que assuste Amilcar, cresceu a trabalhar pedra e o mármore faz de um homem um duro. A pressa que o leva é o amor ao seu Benfica, tem de chegar ao Preto & Branco antes que o jogo inicie. De Pêro Pinheiro ao Algueirão Velho ainda é um esticão, mas ali no P&B sempre há as gajas para comemorar a vitória. Finalmente chega ao seu destino, desmonta da Zundap sem perder a pose, sai calmo, tira o capacete naquele gesto que o caracteriza, puxa o escarro do pó que carrega nos pulmões, lança com desprezo para o chão aquela morte que vem dentro dele por nunca usar a máscara, pois isso não é coisa de homem. Entra no P&B, para trás deixa a moto que no depósito tem escrito a frase que tudo diz sobre ele: “Deus Perdoa, eu não.” O jogo começa, pede cerveja, uma a seguir à outra entremeada de 1920, pois vai ser um dia de festa e Amilcar não quer perder nem um segundo. O jogo vai correndo, a cerveja embriagando e o ânimo crescendo. Já

O pequeno homem.

O homemzinho, pequenino sai de casa. Infeliz vai andando, olha para o chão, encolhido na sua pequenês, esmagado pela grandeza que o rodeia, vive acossado pelo mundo, derrotado pelos embates gigantes que ocorrem constantemente. Vai pequeno, comprimido na sua insignificancia a olhar para baixo porque o que está em cima assusta. Pequeno, tem medo de ser esmagado. Mas o homemzinho nem sempre foi pequeno, foi a vida que assim o moldou. Nasceu grande, forte, mas cada vez que fazia algo embatiam contra ele, saltavam em cima dele porque simplesmente existia e era grande, os homens não se querem grandes, querem-se pequenos, ordeiros e obedientes, e ele contrariava a tendência e reclamava o direito a ser grande, a ser maior que os outros, a olhá-los de cima. A principio tentou resistir, disse a si proprio que não se deixaria esmagar, que era grande e forte, mas o que o rodeava, era maior e destruidor. Lutou sem parar e foi-se cansando, finalmente baixou os braços porque já não os aguentava ergui

Ordem?

Critico-me pela minha falta de contibuição para a ordem global, ou abestinencia política. Os meus pensamentos ligeiramente de esquerda não ajudaram muito, especialmente no ceio de uma familia de direita, havia um desconforto em tomar uma atitude política, e ainda bem, no fim de contas sou disléxico, o uníco contributo que poderia dar era para a desordem global. Seria mais do mesmo, existem centenas de pessoas a dar esse contributo sentadas na Assembleia da Republica, numa espécie de praga concentrada de disléxicos, eles confundem a direita com a esquerda e trocam de palavra como quem troca de camisa. Mal se dá uma eleição o discurso altera-se, dia novo camisa nova, nada de novo. Quanto a contribuir, eu ainda sou daquelas pessoas que vão votar se bem que cada vez com mais dificuldade, nesta ultima eleição entrei na mesa sem um sentido de voto e sai de lá na mesma, e a próxima adevinha-se ainda pior, tomei a decisão de que a partir de hoje sempre que for votar pertenço ao partido dos ind

O Burro.

O homem fixa o Burro nos olhos. Imperativo, cheio de certeza, diz-lhe no seu tom mais afirmativo: “Anda Burro!”. O Burro, burro como é, fica parado. Olha estático o homem, no seu olhar vago. Fosse o homem um fardo e o burro agiria, mas o homem é só o homem e nem sequer é o seu dono. O homem insiste já desesperado, na inquietude normal de quem olha para o Burro e grita vezes sem fim: “Vai burro, anda!” E o Burro, burro como ele é, fica parado a olhar. Não sabe como agir e mantém os quatro membros estáticos. O homem, em pleno desespero, e aproveitando estar a sós com o Burro, tenta explicar: “Põe uma pata para a frente, Burro. Vá Lá! Por favor.” Mas o problema mantém-se o Burro é um Burro, e burro como é não fala a língua do homem, e tudo o que o dono lhe ensinou daquele linguajar foi Arre Burro e Yohoo e mesmo assim naquela pronúncia do interior que não é a do homem. E assim o Burro se fica e o homem se irrita. O homem grita e argumenta, e o burro parado de olhos baços tenta inglório en