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Showing posts from September, 2005

Aldeia de Santa Isilda.

António, vivia solitário naquela pequena aldeia abandonada de Santa Isilda, um lugarejo em torno de uma estrada poeirenta. A sua única companhia era o Tio Manel, da “Tasca do Tio Manel”, que com poucos clientes para servir, ía com ele travando longos debates em verdadeira tertúlia amena sobre “bola” e política, regada e bem regada a copinhos de fundo de 3 e água-ardente de medronho. De quando em quando, aparecia o Zé da oficina e o seu ajudante, e comentava o carro que rebocara de véspera ou o calendário novo. De resto para novidades, tinha que aguardar o telejornal. Via-o em silêncio na mesa do fundo, depois erguia-se lentamente porque o seu tempo era muito e o que fazer pouco, ia até ao balcão e falava calmo sobre as notícias que acabara de ver. Normalmente o Tio Manel, aproveitava o fim do diálogo para lhe dar para ler o Correio da Manhã, a geito de vai lá sentar-te que o nosso tema de conversa já se esgotou. Voltava então, naquele compasso de quem não é aguardado, para a mesa do ca

Lá fora!

Vive ignorante, passa tempos incontáveis deitada, contente pois o seu mundo é aquele, pequeno mas seguro no seu silêncio, cada vez que se atreve a espreitar o que lá fora existe, foge nervosa para dentro da casa. É o conforto e tranquilidade dessa sua casa, que lhe dá a segurança, lá fora tudo parece grande e avassalador, causando-lhe um pânico ridículo, e lá vai ela, que de novo se esconde. É a confusão, o ruído das pessoas que correm, as obras que nunca terminam, os gritos das crianças que brincam, os comentários dos homens nas suas pequenas discussões mundanas e triviais, que a assusta. É, o “lufalufa” do dia a dia, tão normal para os outros mas assustador para ela, na sua grandeza, nos seus ruídos dos carros a passar, das travagens que gritam como mortes anunciadas, que a aterra. De quando em quando, debruça a sua cabeça da janela e pasmada enquanto olha, não percebe o à vontade das crianças que correm livres, pondo-se a si em perigo, das pessoas que passam descontraidas sem seque

As Horas.

Olho as horas, em que o tempo passa. Passa ao lado ou não passa. Olho as horas e elas paradas, alheadas de mim, sem significado. Horas em que vou vivendo uma das minhas duas vidas, a que quero que passe rapido, mas é lenta. Foi a vida que me preencheu e animou, aquela a que me agarrei quando a outra vida nada tinha, foi a vida da realização pessoal, a vida em que eu fiz acontecer e onde tudo acontecia, a exterior. Mas agora parece que parou, ficou vazia. A outra, a interior, é aquela que outrora foi vazia, mas um dia encheu, tornou-se grande, repleta, transbordante e essa corre fugidia. Passa rapida, sem que dela tire o proveito que lhe devo, sem que eu esteja vivo nela. O pior é que a vida vazia, vaza para a cheia e arrasta para ela aquilo que nela criou a desilusão as horas perdidas, fazendo da cheia, não tão cheia, ou cheia de pequenos vazios e ela não cresce como devia. Olho paras as horas, e elas não passam. Olho para a vida, e ela vazia e parada. E tarda a vir a vida cheia que l

Nobel

Um disléxico como outro qualquer, andou que tempos, a escrever, escondendo do mundo, que a disléxia era a sua arte, á sua escrita chamaram, estilo, porque a sua disléxia dava uma forma estranha ás frases, mas não tornava as palavras ilegiveis, ele sabia que no fundo era um disléxico, mas escrevia. Um dia foi premio Nobel, porque a sua escrita disforme a muitos tocou, as pessoas eram levadas a engano naquele falso estilo que as apaixonava, como tantas vezes acontesse. Os criticos ademiravam elogiosamente as brincadeiras da sua disléxica escrita e os Juris, esses achavam aquela escrita unìca. Então cheio de vaidade e gloria, ele continuou a escrever, sabia que a forma ao escrito não era ele que dava, mas sim a sua dislexia. Ele escrevia a pensar numa coisa, mas depois nascia outra no papel, as letras ião de um lado para o outro e era rescrito o texto, sem que ele soubesse o que lá ia. Mas ele não se importava a ele sobrava a fama e o orgulho. E ele mentio, escondeu e escreveu! Escreveu,

Palavra.

Comentarios que nos vamos abitoando ao longo dos tempos, não magoa apenas cansa, ouve-se repetido vez e vez, passa sem deixar marcas mas com a constante monotonia do já esperado. Mais cedo ou mais tarde virá. Ao mundo interessa o diferente para comentar, mas não para conviver, repodia sem pensar e comenta que não vale apena continuar. O mundo não quer criar apenas recriar, não quer sair do convencional, pois o desconhecido o assusta, o diferente o divergente, não quer andar, não aguenta a carga. É o mundo da piada evasiva facil e esquiva. É o mundo repetido da palavra fugitiva que corre no outro sentido, usada para evitar a confrontação, usa a estrategia da retirada, do não falar ou apenas escarnecer. É o mundo do olhar para o lado, do evitar o olhar, do recriminar mudo e infrutifero, do silencio constrangedor que se segue a palavra solta na esperansa que se cale para sempre, que não deixe eco nem simples murmurio. É o mundo seco, insonoro, calado da admissão do convivio com o incomu