Vive ignorante, passa tempos incontáveis deitada, contente pois o seu mundo é aquele, pequeno mas seguro no seu silêncio, cada vez que se atreve a espreitar o que lá fora existe, foge nervosa para dentro da casa.
É o conforto e tranquilidade dessa sua casa, que lhe dá a segurança, lá fora tudo parece grande e avassalador, causando-lhe um pânico ridículo, e lá vai ela, que de novo se esconde.
É a confusão, o ruído das pessoas que correm, as obras que nunca terminam, os gritos das crianças que brincam, os comentários dos homens nas suas pequenas discussões mundanas e triviais, que a assusta. É, o “lufalufa” do dia a dia, tão normal para os outros mas assustador para ela, na sua grandeza, nos seus ruídos dos carros a passar, das travagens que gritam como mortes anunciadas, que a aterra.
De quando em quando, debruça a sua cabeça da janela e pasmada enquanto olha, não percebe o à vontade das crianças que correm livres, pondo-se a si em perigo, das pessoas que passam descontraidas sem sequer olhar à volta em desconfiança. Na sua incompreensão sente de novo o medo, e rapidamente retira a tremula cabeça daquela frecha de janela que por momentos a ligou ao que lá fora vai, e que tanto horror lhe causa.
Vive naquele seu pequeno castelo, seguro, intransponível, resguardada pela muralha das paredes que a escondem e protegem. Guardada no seu isolamento dos medos.
Dos outros só quer o carinho, nada mais exige. Mas mesmo esses quando aparecem, vêm assustadores, ameçadores com as vozes altas e ruidosas, com os movimentos nervosos das tensões da vida. E ela sente uma vez mais o pânico, e tenta logo refugiar-se, sem ter mais onde se esconder, rápida corre para a cama numa tentativa de fuga, pensa por momentos em atirar-se para baixo dela e fazer daí o seu retiro. Mas não, fica apenas ali parada a olha fixamente para a porta, em terror, apavorada, rogando que a li a deixem ficar, que não a tentem obrigar a sair, que não a obriguem a ver o que lá fora existe.
E é sempre assim, até vir a calmia, o descanso, até os outros irem, ou pelo menos pararem e silenciarem, aí avança cautelosa, e vai em silêncio para o pé deles, primeiro observa, com calma, de longe, esperando que não reparem na sua existência. Depois cautelosa caminha até ao sofá e aí fica o tempo que tarde, até vir um gesto de carinho que a tranquilize, ou berro ou gesto brusco que a assuste, quando lhe falam treme, sem nunca saber destinguir o recriminar do elogiar e esperando sempre o pior.
Acaba, sem falhar, por fugir, por se esconder, pois lá fora a vida é grande, mas nem cá dentro é segura, para quem sente sempre medo, e tudo o resto assusta.
Para quem vive isolado tudo se vai tornando maior e perigoso, o espaço cresce, cada vez mais difícil é ter refúgio, cada vez soam mais altos os ruídos, os gritos. Tudo se agiganta, o mundo torna-se esmagador, nas sombras nascem os perigos invisíveis e a luz essa magoa.
Quando os outros finalmente a deixam, fica ali mais uma vez deitada, teme por eles lá fora naquele mundo aterrador, na vida assustadora, receia o que lhes fará o dia a dia ameaçador, o perigo do seu não regresso, da solidão do abandono, do fim que sempre chega.
Mas ela, pelo menos, tem ainda o abrigo daquela casa, as horas de sossego para se tranquilizar, para viver no descanso do seu refúgio de calmia passageira e reconfortante. O que para os outros seria uma prisão para ela é uma muralha protectora, um escudo que a esconde, um refúgio de silêncio.
O que ela desconhece no seu retiro de ignorância, é que o medo, por si sentido, que a leva a esconder, é por muitos partilhado. Que tantos outros têm medo de sair, de se expôr, de sentir, de viver, ou reviver aquilo que sempre existe e os magoa, das más notìcias, das dores, e que esses não são como ela, uma Gata de casa! São sim pessoas que na sua consciência humana temem, e não um animal doméstico apenas assustado pelo que o instinto dita.
É o conforto e tranquilidade dessa sua casa, que lhe dá a segurança, lá fora tudo parece grande e avassalador, causando-lhe um pânico ridículo, e lá vai ela, que de novo se esconde.
É a confusão, o ruído das pessoas que correm, as obras que nunca terminam, os gritos das crianças que brincam, os comentários dos homens nas suas pequenas discussões mundanas e triviais, que a assusta. É, o “lufalufa” do dia a dia, tão normal para os outros mas assustador para ela, na sua grandeza, nos seus ruídos dos carros a passar, das travagens que gritam como mortes anunciadas, que a aterra.
De quando em quando, debruça a sua cabeça da janela e pasmada enquanto olha, não percebe o à vontade das crianças que correm livres, pondo-se a si em perigo, das pessoas que passam descontraidas sem sequer olhar à volta em desconfiança. Na sua incompreensão sente de novo o medo, e rapidamente retira a tremula cabeça daquela frecha de janela que por momentos a ligou ao que lá fora vai, e que tanto horror lhe causa.
Vive naquele seu pequeno castelo, seguro, intransponível, resguardada pela muralha das paredes que a escondem e protegem. Guardada no seu isolamento dos medos.
Dos outros só quer o carinho, nada mais exige. Mas mesmo esses quando aparecem, vêm assustadores, ameçadores com as vozes altas e ruidosas, com os movimentos nervosos das tensões da vida. E ela sente uma vez mais o pânico, e tenta logo refugiar-se, sem ter mais onde se esconder, rápida corre para a cama numa tentativa de fuga, pensa por momentos em atirar-se para baixo dela e fazer daí o seu retiro. Mas não, fica apenas ali parada a olha fixamente para a porta, em terror, apavorada, rogando que a li a deixem ficar, que não a tentem obrigar a sair, que não a obriguem a ver o que lá fora existe.
E é sempre assim, até vir a calmia, o descanso, até os outros irem, ou pelo menos pararem e silenciarem, aí avança cautelosa, e vai em silêncio para o pé deles, primeiro observa, com calma, de longe, esperando que não reparem na sua existência. Depois cautelosa caminha até ao sofá e aí fica o tempo que tarde, até vir um gesto de carinho que a tranquilize, ou berro ou gesto brusco que a assuste, quando lhe falam treme, sem nunca saber destinguir o recriminar do elogiar e esperando sempre o pior.
Acaba, sem falhar, por fugir, por se esconder, pois lá fora a vida é grande, mas nem cá dentro é segura, para quem sente sempre medo, e tudo o resto assusta.
Para quem vive isolado tudo se vai tornando maior e perigoso, o espaço cresce, cada vez mais difícil é ter refúgio, cada vez soam mais altos os ruídos, os gritos. Tudo se agiganta, o mundo torna-se esmagador, nas sombras nascem os perigos invisíveis e a luz essa magoa.
Quando os outros finalmente a deixam, fica ali mais uma vez deitada, teme por eles lá fora naquele mundo aterrador, na vida assustadora, receia o que lhes fará o dia a dia ameaçador, o perigo do seu não regresso, da solidão do abandono, do fim que sempre chega.
Mas ela, pelo menos, tem ainda o abrigo daquela casa, as horas de sossego para se tranquilizar, para viver no descanso do seu refúgio de calmia passageira e reconfortante. O que para os outros seria uma prisão para ela é uma muralha protectora, um escudo que a esconde, um refúgio de silêncio.
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Your work is to discover your world
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The Buddha
The "Enlightened One"
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